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O Caminho que inspira mudança(s)!

por Amorim

“Mudou o que na sua vida?”

Neste 01/05/2018, faz seis anos que iniciei a viagem de Salvador para Madrid e de lá para Sarria, em direção à realização de um sonho antigo: fazer o último trecho do Caminho de Santiago de Compostela – 112km, o que acabou acontecendo de 03 a 09/05/2012.

Mas pensando bem,  a inspiração para esse artigo que reverencia o Caminho, nessa celebração dos seis anos, começou logo dias depois do meu retorno de viagem.

Fui almoçar com a minha amiga Débora Lima e,  logo de cara,  ela me fez uma pergunta que deu início ao diálogo(!).

Ela – Sim, me conte, como foi a sua experiência no Caminho de Santiago?

Mudou o quê na sua vida??

Nada, né?!

Quem a conhece sabe que o que eu descrevi é a mais pura verdade, ela não me dá o trabalho de responder as suas perguntas…

Bem, demos risadas, eu tentei argumentar que as coisas não funcionam assim, que a busca pelo autoconhecimento sempre me pautou, que o Caminho foi uma experiência inigualável, contei algumas passagens, com certeza não consegui mudar a ideia dela e nos despedimos.

Seis anos depois, revendo o e-book que escrevi (O Caminho de Santiago – Sonho, superação e realização), a partir dos registros feitos ao longo da viagem, acabei revisitando as suas fotos e cada momento ali descrito.

Simbolicamente, consolidarei em sete reflexões, o mesmo número de dias no Caminho.

Sem qualquer sentido de autoajuda ou verdades absolutas, simplesmente o que ficou e tem me inspirado ao longo desse período.

1 – Estar só e solidão de fato são coisas diferentes.

Na chegada em Sarria, sem conhecer ninguém, às 6h da manhã, em pleno escuro, juntamente com uns jovens ingleses, encontro um espanhol que me ajuda a arrumar a mochila e me convida para tomarmos um café e apanharmos o documento que deverá ser carimbado nos albergues para obtenção do certificado (Compostela) ao final do caminho.

Saímos dialogando sobre o que cada um buscava no Caminho, ele me falou que estava feliz porque a sua esposa estava grávida e depois de dividir o lanche comigo em um trecho curto, ele seguiu o seu caminho, pois planejava fazer o percurso em cinco dias e eu em sete.

“A gente nunca está sozinho, por mais que pense estar”, Gonzaguinha estava certo…

Apesar de caminhar durante sete dias, sempre chuvosos e a maioria com os dedos mindinhos em frangalhos, sempre sozinho, sem conhecer ninguém, em nenhum momento, sequer, eu me senti só.

O Osho diz que “o homem é do templo e do mercado”.

Após os sete dias do Caminho, deixei o que poderia chamar de “templo” e passei dois dias em “mercado”, a bela Cidade de Barcelona.

Nesses dois dias eu pude sentir e viver a solidão, na multidão…

2- Planejamento é muito importante! Porque alguma coisa, sempre teima em ficar de fora dele…

Quando eu me decidi pela viagem, lembro que sentei em um restaurante do aeroporto de Salvador e conversei, longamente, com o amigo Roberto Cunha, que teve oportunidade de fazer o trecho completo do Caminho de Santiago de Compostela. E ele me deu dicas preciosas, locais de pesquisa etc.

Mas eu não perguntei a ele sobre a condição da bota ou do tênis que eu faria o caminho. Descobri depois, e na carne, que era necessário que estivesse amaciado.

Como se diz por aqui “eu me passei”, fui com um bem apropriado, mas  por estar muito novo, me arrebentou os pés em dois dias.

Como nada é por acaso, aquele esquecimento também me mostrou lá na frente que teve uma razão de ser e isso passava pela superação.

3- Ficar atento às mensagens, esse é o desafio! 

As mensagens estão sempre disponíveis, onde quer que estejamos.

Em um dos trechos, já no terceiro dia da viagem, acordei com muitas dores nos pés e sem conseguir calçar as botas.

As placas de “Táxi” nos trechos do Caminho, eram um convite a desistir, sair do sofrimento.

Quando eu acordei e liguei o meu celular, nesse terceiro dia, encontrei uma mensagem do Caio, meu filho, com quem comentei, por mensagem, sobre as dores e ele me respondeu assim:

“ Eu também não aguentava colocar o tênis de tão machucado que meu pé estava. Força aí, essa dificuldade faz parte. Bom descanso e raça amanhã! Beijo (ele tinha feito esse mesmo trecho um ano antes).

Como uma injeção de ânimo, essa mensagem me empurrou para a frente.

Em outra oportunidade, depois de ter caminhado bastante naquele dia, resolvi parar para descansar e entrei em uma igreja . Talvez em um dos momentos que me senti mais cansado, estafado seria a palavra correta.

Na entrada da igreja, em Furelos,  apanhei um “santinho” com a imagem do Cristo crucificado, mas com uma das mãos livres, e no verso da imagem consta essa frase em várias línguas:

“Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar o peso do vosso fardo e EU vos darei descanso”. MT.11,28.

Como ele sabia que eu estaria tão cansado, justamente ali?

As mensagens sempre me acompanharam e me deram muita força durante todo o restante do Caminho, uma frase, uma palavra, eram convites aos muitos diálogos internos

4- Precisamos do outro. Mas carregamos pesos desnecessários…

Ser independente é saber-se interdependente. Concordo com quem já afirmou que “nenhum homem é uma ilha”.

Em conversa com um casal de brasileiros, que encontrei durante o caminho, eles me contaram que vinham despachando as mochilas para os albergues, através de um serviço de moto taxi.

A partir do terceiro dia eu pude fazer o mesmo e quando eu chegava, ao final do dia, a minha mochila estava lá, intacta.

Tudo que eu despachava na mochila eu não precisaria carregar. Então, por que carregava?

Priorizando o necessário, eu caminhei mais leve.

E quantas vezes carregamos pesos desnecessários na vida?

Nos primeiros dias, identifiquei também que o que mais pesava não estava na minha mochila, mas na mente que sobrecarrega as emoções.

Quando decidi comprar um cajado, encontrei um “companheiro de viagem”, silencioso, mas extremamente importante para trilhar aqueles caminhos molhados e por vezes com subidas íngremes.

Ao longo das paradas, nos diversos albergues, contei com a gentileza de pessoas que nunca tinha visto na vida, dicas, diálogos que surgiram na hora certa, em uma cultura que favorece o ganha/ganha – todos desejam que todos estejam bem.

Quando faltavam 38km para chegar aos 112km do trecho Sarria-Santiago, eu parei na Cidade de Arzua e fui direto procurar uma casa de esportes para comprar um novo tênis, não conseguia mais calçar a minha bota.

A gentil atendente, acabou fazendo uma venda consultiva. Não havia tênis que os meus pés aceitassem.

Ela me recomendou uma sandália franciscana, com solado de borracha. E me disse: os peregrinos, nesse trecho, normalmente trocam os sapatos pelas sandálias.

Do que posso ir abrindo mão para me tornar mais leve?

E quais os suportes que preciso para continuar a caminhar na vida?

5. Quando me senti fora do Caminho. O que acontecia naqueles momentos?

Apesar de todo o desejo, determinação, prazer em estar ali, em alguns momentos eu me senti fora do Caminho.

E descobri que o medo de não conseguir, de  fracassar, era o meu grande inimigo.

Mas o Caminho me ensinou, entre outras tantas coisas que “o mais importante do caminho é o caminhar”.

Toda vez, que eu voltava a minha atenção para aquele momento, ficando presente onde o meu corpo estava, a cada passo, retomava o imenso prazer do caminhar e de estar ali.

Entre alguns testes que passei, recebi uma convidativa mensagem por sms do meu amigo Arnaldo Costa Jr, que estava indo para a Europa naqueles dias, e sabendo do meu desconforto, me convidou para” largar tudo isso aí” e irmos comer um bacalhau em Portugal.

Agradeci o convite do meu amigo, mas  nada mais me tiraria daquele caminho,  era ali que eu precisava estar…

6. ” A vida necessita de pausas”

As paradas para descansar também foram fundamentais para poder prosseguir.

Em uma delas, pude comer a melhor empanada de toda a minha vida. “Jamon” com queijo, suco de laranja e água.

Dava “férias para os meus pés”.

Como disse Drummond “a vida necessita de pausas”, eu acrescentaria com uma boa empanada de “jamon” com queijo…

Sob forte chuva, encontrei uma barraca no meio do Caminho e parei para beber água e comer alguma coisa.

Não encontrei ninguém para me atender. Uma placa dizia “Escolha o que você quiser adquirir e deixe o valor correspondente no cofre. Esse é o espiríto do Caminho, nós confiamos em você”.

Eu vivi na prática, o exemplo da  “cultura da confiança”.

Será que algum dia veremos isso por aqui? Seis anos depois e continuamos muito distantes…

No Hotel e Restaurante Ruta Jacobel, parei para fazer um lanche e nesse momento tocava Mr. Tamborine Man na voz do grande Bob Dylan, tangenciei a plenitude…

7. Cheguei a Santiago, realizei o meu sonho, carimbei o passaporte e recebi a Compostela!

Além das reflexões já citadas anteriormente,  a emoção da chegada e da missa na Catedral de Santiago, pude internalizar que:

  • É preciso andar um passo de cada vez;
  • Não adianta eu ficar pensando no que ainda falta “caminhar” lá ou aqui, sob pena de paralisar;
  • Focar na ação necessária para hoje é viver no presente;
  • Para que o sonho se realize, manter foco no propósito;
  • E celebrar cada conquista!

 

Por esses dias, resolvi apanhar o meu cajado e fazer uma caminhada, para “entrar no clima” desse artigo, trazer um pouco do que foi aquela  experiência, vivenciando a natureza.

E fui aqui em Salvador, ao Parque de Pituaçu.

“Pituaçu? Lá ele”, diria o baiano! “Pituacivis”, em bom baianês!

Lembram do início do artigo e aquela pergunta que já veio com a resposta?

“Mas mudou o que na sua vida? Nada, né?

Fosse feita hoje, eu responderia dialeticamente a essa pergunta da minha amiga.

Não somos mais os mesmos, nem o Caminho e nem eu.

Talvez seja essa a única mudança verdadeira…

Você pode baixar, gratuitamente, o e-book  “Caminho de Santiago: Sonho, superação e realização”,  conhecer  fotos e registros da viagem, acessando a seção de livros do nosso site.

Buen Camino!

Antonio Amorim

www.antonioamorim.com.br

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4 comentários

Antonio Pedro 1 de maio de 2018 - 14:34

Meus parabéns, amigo Amorim. Você está,sempre, superando as minhas expectativas.
Muito Sucesso.

Responder
Vaneide Duate 1 de maio de 2018 - 16:17

Muito bom artigo sobre liderança! Excelente provocação para os que estão neste caminho.

Porque meu amigo, existe várias formas de caminhar e, são muitos os caminhos
E poucos os que têm coragem de buscar..

Responder
Hivani Caitano de Sousa 1 de maio de 2018 - 16:19

” A vida necessita duma pausa ” Foi isto que fiz agora para ler seu artigo. Desta forma compartilho da sua viagem, tomando conhecimentos das suas dores, emoções, opções. Pude observar que todos se preocupavam com o outro e que o mais importante do caminho era caminhar.
Caminhar com menos peso mental e material e principalmente com sapatos velhos, garantem mais conforto.
Qto. Solidão e desonestidade vamos convier por muito tempo. Ainda viveremos dias melhores.
Estou necessitada duma viagem. Preciso duma pausa.
Um grande abraço, amigo Amorim.

Responder
Marilene Vaquer 13 de maio de 2018 - 08:19

Querido Amorim
Amei ler seu relato!
Compartilhar suas reflexões e aprendizados me apaziguaram a mente neste momento de incertezas…
Meu coração aquecido com suas palavras, agradece.
Ainda não fiz o caminho, mas já comi “jamon” em Barcelona; fui ao mercado, quiçá em algum momento comerei “jamon” no templo.
Gratidão!
Com amor,
Mar

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Escrito por Antonio Amorim.